Tireoide e exercício físico
- Canal do Personal
- Apr 11, 2017
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O exercício físico promove diversas alterações no organismo humano e muitos artigos científicos descrevem sua ação sobre o sistema endócrino. Sabe-se que o exercício físico atua inibindo ou estimulando a secreção de hormônios, porém, o motivo pelo qual ocorre essa alteração não é elucidado.
Alguns estudos mostram que, mudanças na secreção de hormônios na resposta ao exercício físico não está apenas relacionada à intensidade de esforço muscular, mas também é influenciada pelo estresse térmico .
A regulação da integração do metabolismo nos humanos é mediada por mensageiros químicos, denominados hormônios. Essas substâncias são produzidas em glândulas e transportadas através do sangue até chegarem a um órgão alvo.
A tireóide está relacionada com funções de lubrificação da laringe e, posteriormente, na regulação do metabolismo energético.
A tireóide, localizada na face antero-cervical, é a glândula responsável pela produção dos hormônios tiroxina (T4) e triiodotironina (T3) . Apresenta grande dependência de iodo e tirosina para a produção hormonal e tem sua regulação através de um eixo de contro hipotalâmico-hipofisário.
No interior do folículo tireoidiano, o iodato é oxidado a iodo pelo peróxido de hidrogênio, sendo essa a organificação do iodeto. O iodeto se liga a posição 3 do anel de tirosil na reação catalizada pela enzima tireóide peroxidase, formando 3-monoiodotirosina (MIT). Uma subseqüente adição de outro iodo na posição 5 do resíduo de tirosil sobre MIT forma 3,5-diiodotirosina (DIT).
O T4 é criado, então, pela condensação ou junção de duas moléculas de DIT. Dentro da tireóide, quantias menores de DIT podem também condensar com MIT para formar T3 ou T3r. Depois dos hormônios da tireóide serem formados estes são ligados a proteínas lisossomais como a tireoglobulina, que lançam os hormônios na circulação.
Apenas 20% do T3 circulante é derivado da secreção tireoidiana, sendo o restante formado pela conversão periférica de T4, que acontece em diversos tecidos do corpo . O T4 é considerado um pró-hormônio e, em sua maioria, é carreado pela globulina ligadora de tiroxina (TBG). Esse pró-hormônio sofre deiodinação gerando o T3, hormônio ativo.
No nível celular, a atividade dos hormônios tireoidianos é mediada pela interação com receptores nucleares de T3, presentes em cada tecido do corpo. Os efeitos metabólicos dos hormônios tireóideos surgem quando eles ocupam receptores específicos evocando subseqüentes efeitos sobre a expressão dos genes intracelulares. É estimado que uma célula precisa de cinco a sete vezes mais T4 para se ligar nos receptores nucleares e ter um efeito fisiológico, comparado com o T3.
Esses hormônios têm a ação sobre a síntese protéica e enzimática, aumentando o tamanho e número de mitocôndrias na maioria das células, elevando a atividade contrátil do coração, promovendo absorção rápida da glicose e incrementando a glicólise, a glicogenólise, a gliconeogênese e a mobilização de lipídeos, acelerando, assim, o metabolismo.
Outro hormônio formado por uma via alternativa do T4 é o T3 reverso (T3r), considerado inativo. Essa via ocorre em certos estados fisiológicos ou patológicos, como no estresse. Não é bem esclarecida a função do T3r, porém, sabe-se que o desvio do metabolismo do T4 para essa via alternativa é poupador de energia.
Já o T3r deve ser destituído de atividade hormonal, porque pode ter ação inibitória competitiva à atividade do T3 ao nível celular. Dados experimentais também sugerem que T3r tenha atividade inibitória sobre 5`deiodinase, sugerindo que isso deva também interferir diretamente com a geração de T3 para T4. Em condições normais, 45-50% da produção diária de T4 é transformada em T3r .
Tireóide e exercício
A secreção de TSH é possivelmente aumentada durante o exercício e essa estimulação pode ser explicada pela necessidade do corpo de aumentar seu metabolismo para praticar o mesmo. Os níveis de TSH permanecem elevados por diversos dias após uma competição e promove um aumento tardio da liberação de T3 e T4 .
As sessões de exercício submáximas prolongadas fazem com que o T4 permaneça 35% mais elevado do que os níveis de repouso, depois de um pico inicial no começo do exercício, e os níveis de T3 tendem a aumentar também. Também pode ocorrer maior deiodinação do T3 durante o exercício, entretanto seus níveis séricos não se alteram.
Alguns estudos sugerem que, homens atletas apresentam um aumento da secreção e degradação do T4 comparados a indivíduos sedentários, porém, o T4 livre não se altera com o exercício. Quanto às mulheres atletas, quando feito um treinamento de endurance, tem-se uma diminuição da função tireoidiana, com níveis diminuídos de T3 e hiper-resposta do TSH ao estímulo com TRH.
Outro fator observado é que atletas mulheres com perda de peso excessiva e amenorréia pelo estresse crônico causado pelo exercício, podem apresentar uma supressão dos hormônios tireoidianos, o que pode levar à síndrome do T3 baixo, onde há a predominância do T3.
Uma hipótese proposta para explicar este mecanismo, é através da ativação de NF-kappaB por norepinefrinas, resultando na inativação do gene de expressão de enzima T3-dependente-5’-deidodinase.
O exercício representa um estresse físico que altera a homeostasia, em resposta a esse efeito, o sistema autônomo reage e participa para manter o estado de equilíbrio do organismo humano. Entretanto, o condicionamento físico é associado com uma diminuição da resposta hipofisiária ao exercício.
Podemos observar que alguns estudos concordam que existem alterações nos níveis séricos dos hormônios tireoidianos durante uma seção de exercício. Essa observação deve-se ao fato da maior necessidade energética das células durante a atividade. Porém, muitos também concordam que essa atividade da tireóide diminui com o treinamento, talvez pela adaptação do organismo.
Sendo os resultados ainda controversos, não se pode avaliar ao certo qual o efeito do exercício sobre a função tireoidiana, devido a isto, são necessários mais estudos experimentais visando buscar as alterações dos hormônios tireoidianos durante o exercício. Além disso, devem ser feitos trabalhos com diversos tipos de exercício, visto que o esforço e ambiente envolvidos podem modificar drasticamente o resultado da pesquisa.
Referências:
-CILOGLU, Figen et al. Exercise and its effects on thyroid hormones. Neuroendocrinology Letters. 26(6): 830-834;
-MASTORAKOS, G; PAVLATOU, M. Exercise as a stress model and the interplay between the hypothalamus-pituitary-adrenal and the hypothalamus-pituitary-thyroid axes. Horm Metab Res. 37(9): 577-84; 2005.
-2005.
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